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sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Documentário ‘Mataram a irmã Dorothy’ é éxibido durante Mostra em São Paulo
A missionária americana naturalizada brasileira Dorothy Stang ficou famosa por seu trabalho de preservação da Amazônia, mas ganhou as páginas dos jornais brasileiros e internacionais em 2005, ao ser assassinada com seis tiros, um deles na nuca.
O filme “Mataram a irmã Dorothy”, em cartaz na 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, vem recontar não apenas o crime, mas também seus bastidores, o julgamento dos acusados e, como não poderia deixar de ser, a luta de "irmã Dorothy", como a freira era conhecida, no interior do Pará.
Aos 73 anos, com fala mansa e normalmente sorrindo, Dorothy Stang desenvolvia um trabalho de conscientização e preservação da floresta, ao mesmo tempo em que tentava colocar em prática o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), que visava assentar famílias em áreas estabelecidas pelo Governo Federal e conciliar a produção familiar com a utilização sustentável da floresta.
A freira vivia em conflito constante com os grandes fazendeiros da região, que além de queimar áreas de vegetação para a instalação pastos, alegavam ser proprietários de terrenos nos quais ela pretendia desenvolver seu projeto.
Dirigido pelo norte-americano Daniel Junge, o documentário “Mataram a irmã Dorothy” remonta com sucesso as peças dessa disputa, dando voz a ambos os lados envolvidos -os fiéis seguidores de Dorothy, que ainda hoje tentam superar sua ausência, e os fazendeiros e trabalhadores de latifúndios, que criticam sua política e sua forma de atuação e, mesmo diante das câmeras, não se inibem em chamá-la de “demônio”.
Mas os três anos de trabalho de Junge, que culminaram em 400 horas de filmagens, traz muito mais para o espectador: é um convite à indignação. Logo após o assassinato da freira, os primeiros suspeitos são presos. E levam a outros suspeitos, grandes fazendeiros que, de acordo com a acusação, teriam encomendado a morte da missionária. Nesse ponto a Justiça Brasileira é coloca em xeque.
As câmeras do cineasta acompanham o trabalho da promotoria, a luta da família e dos amigos de irmã Dorothy pela federalização do processo, que, eles acreditam, poderia ser manipulado caso se desenrolasse no Pará. A Justiça nega o pedido, e logo fica claro que o receio não era infundado. Chega a soar como ficção o comportamento da equipe de advogados de defesa, comandada por Américo Leal -o mesmo que conseguiu a absolvição dos três comandantes da operação policial que matou 19 sem-terra em Eldorado do Carajás em abril de 1996-, sempre rindo e tratando a vítima de forma desrespeitosa e irônica. Durante o julgamento, a situação só piora.
“Esse filme é altamente revelador. Considero fundamental que os representantes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça assistam-no. Que eles vejam como agem esses advogados”, afirmou o senador Eduardo Suplicy, presente ao debate que aconteceu na quinta-feira (23) à noite, após a primeira sessão do longa-metragem.
Questionado sobre como havia realizado as filmagens de “Mataram a irmã Dorothy”, Junge deu de ombros: “Não sei”. Ele referia-se às cenas que justamente revelam o comportamento dos advogados de defesa, que não se intimidaram em momento algum pela presença das câmeras.
“Esse é o modo como eles agem, e gostam de mostrar que são assim. Não há nada contra eles no Pará, é um ambiente de impunidade. A imprensa foi muito sensacionalista na cobertura desse caso, e acho que eles apreciaram aquela oportunidade de falar diretamente para a câmera. É como dizem: você dá corda suficiente e a pessoa se enforca”, afirmou o cineasta, que estava acompanhado ainda do procurador federal Felício Pontes Júnior, do coordenador da Campanha de Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, do ator Wagner Moura, que narra o documentário, e de irmã Rebeca, amiga mais próxima de Dorothy.
“Essa luta é muito maior. Não é só do Pará, é de todos vocês. É do Brasil. Espero que esse filme gere indignação e, mais que isso, que vocês digam: ‘Basta! Isso não pode mais acontecer no Brasil’. Que as pessoas se questionem do que podem fazer para ajudar”, encerrou a freira.
Do G1
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