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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Soja leva famílias de volta ao campo em Santarém nos últimos sete anos

Por: Paulo Leandro Leal

A produção mecanizada de soja na região de Santarém expulsou milhares de famílias que viviam no campo, ocasionando o êxodo rural e o inchado das cidades, certo? Errado! Um dos principais argumentos usados por ambientalistas contra a produção mecanizada de grãos no oeste paraense foi derrubado esta semana, com a divulgação de um estudo que mostra exatamente o contrário: a partir de 2000, com o início da produção de grãos em larga escala, a população rural de Santarém voltou a crescer, chegando, no ano passado, ao mesmo número de 28 anos atrás.

O estudo "Informações Municipais 2008", da Secretaria de Planejamento do município de Santarém, mostra que em 1980 a zona rural de Santarém possuía 80.293 moradores, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na década de 80, houve um pequeno aumento do número de moradores, chegando a 85 mil em 1990. A década de 90 foi marcada por uma verdadeira fuga do campo, ocasionada principalmente pelo abandono das terras pelos agricultores, que partiram em busca de ouro nos garimpos da região. A significativa redução da população rural fez com que em 2000 o número de moradores fosse de 76.242.

Foi no início desta década que foram dados os primeiros passos para a lavoura de grãos em Santarém, marcando também o início de uma curva ascendente do número de moradores no campo. De 2000 até o ano passado, segundo os dados do IBGE, houve um aumento gradual e contínuo da população rural, chegando, no ano passado, a 80.765 moradores. Em números absolutos, um pouco mais do que em 1980, mas naquela época, Santarém possuía um território maior, vindo a perder depois o que hoje são os municípios de Placas e Belterra, que juntos têm mais de 30 mil habitantes.

Se os dois municípios que conseguiram a emancipação política em 1994 ainda fossem território de Santarém, a população rural do município seria superior a 100 mil habitantes, quase a de da população total de hoje. Segundo o IBGE, no ano passado a população total do município de Santarém chegou a 278.118 moradores, sendo que 197.353 moram na zona urbana, o que corresponde a 69% da população total. A população rural aumentou não somente em números absolutos, como também em termos percentuais. Em 2005 correspondia a 29% da população, chegando a quase 32% em 2007.

Os números derrubam o mito de que a produção mecanizada de grãos em Santarém expulsa os agricultores do campo, argumento que vem sendo utilizado, até hoje, para tentar barrar o avanço deste tipo de produção e fechar o símbolo desta produção, o terminal graneleiro da Cargill instalado no porto de Santarém. Uma das principais entidades articuladoras desta ação, a Organização Não Governamental (ONG) Greenpeace, foi acusada pelo setor produtivo regional de tentar inviabilizar o desenvolvimento regional.

O Greenpeace coordenou uma verdadeira batalha de informação contra a Cargill, chegando a invadir o porto da empresa por duas vezes. No campo judicial, o Ministério Público Federal adotou as teses da ONG e passou a acusar a Cargill de incentivar, entre outras coisas, o êxodo rural no município de Santarém. Boa parte dos argumentos usados pelas entidades locais que também aderiram aos argumentos e à luta contra a soja estão no relatório publicado pelo Greenpeace em 2006, intitulado "Comendo a Amazônia", que aponta o êxodo rural como uma das conseqüências da produção de soja.

Em despacho do dia 27 de fevereiro deste ano, o Greenpeace afirma que o porto da Cargill é um "símbolo da expansão da soja na Amazônia", argumentando que è este motor tem impulsionado não apenas o desmatamento, como a grilagem de terras e a violência contra as comunidades locais. "A expansão da soja na Amazônia tem provocado aumento do êxodo rural e o inchaço das periferias de Santarém", diz a organização em seu despacho enviado para os jornais, desmentido agora pelos números oficiais do IBGE.

Políticas públicas fixam as famílias no campo, diz secretário

O secretário de Planejamento de Santarém, Everaldo Martins Filho, reconhece que a retomada da produção agrícola tem influência no aumento da população da zona rural nos últimos sete anos, e acrescenta a isso as políticas públicas voltadas para as famílias que moram no campo. Ele enumera uma série de políticas públicas e ações que conseguem manter as pessoas na zona rural e ainda fazem com que muita gente que havia se mudado para a cidade volte ao campo.

Everaldo diz que à partir de 2003 houve um aumento da força de políticas federais como o Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), que financia a produção agrícola familiar e aumentou o aporte de recursos para a região. "Para receber o financiamento do Pronaf é preciso morar na zona rural", explica, acrescentando que outra política que têm forte influência nesta questão é o programa Luz Para Todos, que tem levado energia a dezenas de comunidades rurais santarenas nos últimos anos. "Muitas famílias que tinham se mudado para a cidade estão começando a voltar para as comunidades rurais que estão recebendo energia", informa.

Segundo o secretário, as políticas do governo municipal voltadas para a zona rural também têm por objetivo melhorar a qualidade de vida e dar melhores condições de trabalho para os produtores rurais, especialmente os da agricultura familiar. "As políticas públicas do governo municipal são voltadas para a família, para a fixação das famílias no campo", explica, informando que entre estas políticas está o investimento, por exemplo, na contratação de centenas de funcionários de nível superior para as áreas da educação e saúde. "Além de ajudar a melhorar a qualidade de vida das famílias, estas pessoas vão morar nas comunidades rurais e ajudam a aumentar a população", explica.

Sobre a acusação de que a produção de grãos estava expulsando as famílias do campo, Everaldo diz que algumas comunidades deixaram de existir em virtude da migração dos moradores e escolas pararam de funcionar por falta de alunos. Mas na avaliação do secretário, estas famílias continuam morando na zona rural, em outras localidades. "Estas pessoas podem até ter morado na cidade por um tempo, mas o que houve foi um deslocamento de famílias do eixo da Santarém-Cuiabá (BR-163), onde está localizada a maior parte dos grandes produtores de grãos, para o eixo da Santarém/Curuá-Una (PA-370)", explica Everaldo.

Para o secretário, o aumento da produção agrícola também tem papel importante na fixação do homem no campo, pois significa aumento da geração de emprego e renda. Ele diz que mesmo as grandes propriedades, que produzem utilizando tecnologias mais avançadas e maquinários na maior parte do processo produtivo, ajudam na geração de empregos no campo, contribuindo para a manutenção e aumento da população rural do município.

IMPORTÂNCIA - A participação do setor agrícola santareno no Produto Interno Bruto (PIB) municipal têm aumentando de forma significativa com o advento da cultura mecanizada de grãos. Segundo estudo do economista José Lima Pereira, o setor apresentou notável desempenho no período de 1996 a 2007, evoluindo de 130 milhões de reais para 564 milhões de reais em 2007. Em termos percentuais, a participação saltou de pouco mais de 26% em 1996 para 30,79% no ano passado.

Nos últimos dois anos a produção agrícola sofreu queda, devido às restrições de crédito e ás barreiras ambientais. Se não fosse por isso, a participação do setor poderia estar em cerca de 33%.

Do Site Ecoamazônia

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